Os desafios do homem à proteção do meio ambiente no século XXI

O homem, quando nômade, no período chamado Neolítico, explorava a natureza conforme suas necessidades naturais, de alimentação e agasalho, gerando resíduos plenamente absorvidos pelo meio ambiente, sem causar poluição. Ao fixar-se num determinado território, o homem tornou-se sedentário concentrando, dessa forma, os seus resíduos gerados em um ponto fixo, promovendo a poluição ambiental. Qualquer excesso de material ou energia lançado no meio ambiente causa poluição.

No Brasil, a explosão demográfica, causou ocupações irregulares nas grandes cidades, acentuando não só a poluição por ausência do saneamento, mas também disseminando doenças causadas pela aglomeração da população. No campo, o homem nesses últimos anos, por meio da agricultura e pecuária de alto rendimento, destruiu grande parte da floresta, quase sempre operando sem a referida licença ambiental. Com isso, os mananciais foram assoreados, inviabilizando dessa forma o abastecimento de nas cidades. Os defensivos agrícolas usados no processo de produção, deixaram resíduos que foram parar na mesa da população.

Conforme levantamento chefiado pelo professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Wanderlei Pignati, algumas cidades de Mato Grosso têm aplicação de até 351 litros de defensivos por habitante. Os resíduos desses defensivos foram encontrados no leite materno das mães. Com a adoção dessa prática de pulverização aérea na lavoura, algumas cidades do estado, têm média de exposição por habitante, 80 vezes acima dos índices nacionais.

Tempos atrás, em Lucas do Rio Verde e em Campo Verde, pesquisadores conseguiram identificar resíduos de defensivos agrícolas na terra, no ar e nas águas das cidades – tanto nos rios da região quanto na chuva. Eles encontraram também os princípios ativos desses defensivos na urina e no sangue de trabalhadores rurais e de professores das escolas do interior. Cada habitante de Campo Novo do Parecis esteve exposto a 208 litros de defensivos em 2014 (29 vezes acima da média nacional). Em Sapezal, o número é de 351,5 litros por indivíduo (50 vezes acima da média). E em Campos de Júlio foi estimada uma assustadora imposição de 598 litros por habitante (85 vezes acima da média).

A sustentabilidade ambiental, constitui o grande desafio do homem no século XXI, pois terá que encontrar o equilíbrio entre a produção de alimento e a preservação do meio ambiente. Dessa forma, o Dia Mundial do Meio Ambiente, que completa neste 5 de junho, 48 anos, foi instituído para despertar a conscientização do impacto destrutivo do homem sobre o meio ambiente, em todas as esferas sociais, tendo como objetivos fomentar os acordos ambientais e definir políticas voltadas para a proteção do meio ambiente. Implementar, de forma emergencial, uma consciência ambiental visando o futuro do planeta com crescimento sustentável no mundo e também transformar pessoas comuns em agentes ativos para a preservação e para a valorização do meio ambiente.

Outro grande desafio do homem no séc. XXI, não menos importante, é a gestão dos recursos hídricos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mostram que cerca de 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável. Nos países em desenvolvimento, esse problema aparece relacionado a 80% das mortes e enfermidades. No século XX, o consumo da água multiplicou-se por seis – duas vezes a mais do que a taxa do crescimento da população mundial. Um total de 26 países sofrem escassez crônica de água e a previsão é de que em 2025 serão 3,5 bilhões de pessoas em 52 países nessa situação.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), há uma enorme discrepância em relação à distribuição geográfica e populacional da água no Brasil: a Região Hidrográfica Amazônica abriga sozinha 74% da disponibilidade de água e é habitada por menos de 5% dos brasileiros.

Nesse contexto, o Brasil compartilha cerca de 82 rios com os países vizinhos, incluindo importantes bacias como a do Amazonas e a do Prata, além de compartilhar os sistemas de aquíferos Guarani e Amazonas.

O planeta terra já atingiu o ponto máximo de uso de recursos naturais que poderiam ser renovados sem ônus ao meio ambiente. Em 2019, a humanidade atingiu o ponto máximo da data limite mais cedo do que em toda a série histórica, medida desde 1970. Isso significa que, a partir desse momento, todos os recursos usados para a sobrevivência (água, mineração, extração de petróleo, consumo de animais, plantio de alimentos com esgotamento do solo, entre outros pontos) entrarão em uma espécie de “crédito negativo” para a humanidade. Para manter o mesmo padrão de consumo atual, seria necessário 1,75 planeta terra. A estimativa é da Global Footprint Network, organização internacional pioneira em calcular a pegada ecológica. Portanto o homem é o único ser sensível que se destrói no estado de absoluta liberdade; qualquer outro animal, quando se despedaça, é para destruir prisões e quebrar cadeias.

Não há dúvida que o novo coronavírus se alastrou pelo mundo graças à ação destrutiva e invasora do ser humano contra a natureza, afirma o professor doutor em Biodiversidade Allan Pscheidt. O organismo da Covid-19 está há tempos no meio ambiente, provavelmente alojado em morcegos nativos de cavernas intocadas, segundo o professor. Com a crescente urbanização e consequente invasão humana, o vírus quebrou seu ciclo natural e alcançou outros seres, como o homem, cujo organismo ainda não está preparado para combatê-lo.

De acordo com o pesquisador, a pandemia deixa lições claras: precisamos nos preocupar urgentemente com o consumo desenfreado, a destruição recorrente do planeta e as mudanças climáticas. A disseminação do novo coronavírus é resultado direto disso. Pscheidt alerta que, em um mundo interligado como o que vivemos hoje, epidemias virais devem se tornar cada vez mais recorrentes. Para ele, se não evoluirmos para uma sociedade mais consciente e menos egoísta, não teremos muito mais tempo por aqui.

Referente a mais um desafio do homem neste século, discorro agora sobre a gestão dos resíduos sólidos urbanos, que atiça qualquer gestor experimentado pois está ligada diretamente a mudança de comportamento do homem.

No Brasil, em 2018, foram geradas 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse montante, 72,7 milhões de toneladas foram devidamente coletadas.  Por outro lado, evidencia-se que 6,3 milhões de toneladas de resíduos não foram recolhidas junto aos locais de geração. A destinação adequada em aterros sanitários recebeu 43,3 milhões de toneladas, o restante foi despejado em locais inadequados por 3.001 municípios. Ou seja, 29,4 milhões de toneladas de RSU acabaram indo para lixões ou aterros controlados, que não contam com um conjunto de sistemas e medidas necessários para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações. Assim sendo, dos 79 milhões de toneladas de lixo gerados, acredita-se que 30% poderia ser reciclado, mas apenas 3% de fato passa pelo processo.

Em Cuiabá não é muito diferente disso, o atual aterro recebe em média, só da coleta doméstica, em torno 600 toneladas/dia, o que equivale 15.000 mil toneladas mês com 25 dias efetivos de coleta, o que corresponde mais de 90% de resíduo gerado. Um dos objetivos da operação deste aterro é o tratamento do chorume, por se tratar de um líquido formado pela degradação da matéria orgânica existente no resíduo sólido e que causa grande dano ao meio ambiente. Com a Estação de Tratamento do Chorume, o efluente a ser descartado poderá ser reutilizado. A separação e reciclagem dos resíduos sólidos de Cuiabá são de responsabilidade da Cooperativa de Trabalhadores e Produtores de Materiais Recicláveis (Coopemar). Boas práticas são realizadas junto aos servidores municipais por meio de palestras sobre sustentabilidade, além do estímulo a adoção de hábitos como separação dos resíduos, economia de água e redução na utilização de copos descartáveis e papéis.

Contudo, os desafios do homem à proteção do meio ambiente no século XXI, passam por uma atitude proativa de todos nós, no sentido de não ficarmos omissos diante dos problemas ambientais e não esperar tudo do governo. Cada um de nós podemos implementar boas práticas de sustentabilidade muito simples, tais como a troca de todas as torneiras da casa por dispositivos com fechamento mecânico automático; implantação de caixa acoplada no vaso sanitário, que gasta menos água; instalação de ducha na torneira da pia de lavar louça; não tomar banho demorado; preferir sempre embalagem de papel; frequentar restaurantes, bares, hotéis que tenham comprometimento ambiental; adquirir o hábito de separação do lixo residencial; se possível, usar energia fotovoltaica; abastecer só com combustível renovável; exigir copo descartável de papel para tomar água e café nas repartições públicas, entre outras. Tudo isso, requer esforço mínimo de cada um de nós.

 Basta ser proativo e a natureza agradece.

Noé Rafael da Silva
Engenheiro químico e conselheiro suplente do CRQ XVI

 

 

 

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